“Alguém na vida me ensinou
Basta Bem Pensar, Di Melo.
Quem fala de amor tem que ter pra dar
O mesmo alguém foi quem me falou
Quem não pode com santo não carrega patuá!”
Essa é uma composição do Di Melo e, talvez, poucas pessoas a conheçam, diferente do ditado popular que diz “Quem não pode com mandinga não carrega patuá!”.
Mas o que esse ditado popular tem a nos ensinar?
Como sabemos, a história afro ancestral fundou-se da oralidade, por isso temos tão poucos registros de escritores ou griots retratando a própria história, diferente de tantas cartas enviadas pelos portugueses sobre a raça negra.
O ano exato do primeiro uso do primeiro patuá não existe, mas o primeiro registro de uso do artigo religioso no Brasil foi na Bahia, na década de 1830, com os muçulmanos Mandingas, descendentes do Império do Mali e um dos protagonistas da grande Revolta dos Malês.
Os negros malês eram muçulmanos, viviam ao norte do continente africano e praticavam o islamismo de berço. Ao desembarcarem no Brasil, faziam papéis de comerciantes e de capitães do mato por terem leitura e escrita avançadas, diferente de algumas etnias e grupos africanos.
Os Mandingas carregavam no peito, amarrado num cordão, uma espécie de amuleto, chamada pelos outros grupos de patuá. Este amuleto tinha -gravado e costurado num pedaço de couro- trechos do Alcorão e um Mandinga reconhecia o outro através de sua leitura, em árabe.
Negros escravizados, sabendo que Mandingas tinham “passe livre” começaram a fazer suas versões do patuá para fugir das fazendas. O único problema era que, quando encontravam um Mandinga, teriam que, além de mostrar o trecho do alcorão, lê-lo. Dentro deste contexto, muitos foram capturados, vários inclusive morreram nas mãos dos Mandingas, visto que era imperdoável, para eles, o uso impróprio de sua religião.
O dito é interpretado de várias formas, tanto em cunho religioso como um ensinamento de preto velho. Mandinga, fora etnia, significa no dito popular, feitiçaria, magia, misticismo. Algo que, quando você não conhece, é melhor não se envolver.
Essa história é só uma fatia do bolo para o que foi, em 1835, a Revolta dos Malês, que deixo para outra matéria.
O ensinamento fica.